sábado, 8 de outubro de 2011

Prêmio Nobel da Paz de 2011 é dividido entre três mulheres

Thorbjoern Jagland, presidente do comitê do Nobel, argumentou que as laureadas foram "recompensadas por sua luta não violenta pela segurança das mulheres e pelos seus direitos a participar dos processos de paz".
Três mulheres - a presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, a também liberiana Leymah Gbowee e a ativista iemenita Tawakkul Karman - foram laureadas com o Prêmio Nobel da Paz de 2011.

O anúncio foi feito nesta sexta-feira (7) em Oslo, Noruega, pelo comitê que outorga o prêmio desde 1901. As vencedoras vão dividir um prêmio de US$ 1,5 milhão.
 
"A esperança do comitê é de que o prêmio ajude a colocar um fim na opressão às mulheres que ainda ocorre em muitos países e a reconhecer o grande potencial para democracia e paz que as mulheres podem representar", disse o presidente do comitê.
"Não podemos alcançar a democracia e a paz duradoura no mundo se as mulheres não obtêm as mesmas oportunidades que os homens para influir nos acontecimentos em todos os níveis da sociedade", disse Jagland.

Tawakkul Karman, Ellen Johnson Sirleaf e Leymah Gbowee

Ellen Johnson Sirleaf, de 72 anos, foi a primeira mulher a ser livremente eleita presidente de um país africano, em 2005. Economista e mãe de quatro filhos, a "Dama de Ferro" tenta a reeleição em pleito marcado para esta terça-feira (11). "Desde sua posse em 2006, contribuiu para garantir a paz na Libéria, para promover o desenvolvimento econômico e social e reforçar o lugar das mulheres", disse Jaglan, ao justificar a premiação

Sua compatriota Leymah Gbowee teve um papel importante como ativista durante a segunda guerra civil liberiana, em 2003. Ela mobilizou as mulheres no país pelo fim da guerra, organizando inclusive uma "greve de sexo" em 2002. Também organizou as mulheres acima de suas divisões étnicas e tribais no país, ajudando a garantir direitos políticos para elas.

E Tawakkul Karman, ativista iemenita pró-direitos das mulheres, tem importante participação na chamada Primavera Árabe, movimento pró-abertura democrática que vem sacudindo politicamente vários países do mundo árabe desde o início do ano. Em entrevista à TV Al Jazeera, ela disse que o prêmio é "uma vitória para todos os ativistas iemenitas", mas que a luta pelos direitos continua no país.
"Nas mais difíceis circunstânias, tanto antes como depois da Primavera Árabe, Tawakkul Karman teve um papel importante na luta pelos direitos das mulheres, pela democracia e pela paz no Iêmen", segundo o comitê.

O Nobel é escolhido por um comitê norueguês de cinco membros, apontados pelo Parlamento da Noruega.
Geralmente, a tendência é optar pela diversidade dos ganhadores. No ano passado, o ativista chinês pró-democracia Liu Xiaobo foi o ganhador.
Em 2009, foi o presidente dos EUA, Barack Obama, por conta de seus esforços em relação à questão nuclear.

Poucas mulheres

Até agora, em 111 anos, apenas 12 mulheres haviam recebido o Nobel da Paz.
A última mulher a ganhar também foi uma africana, a militante ecologista queniana Wangari Maathai, que morreu há pouco. Em 2011, o Nobel da Paz registrou uma cifra recorde de 241 candidaturas de indivíduos e organizações. O prêmio será entregue em Oslo no próximo dia 10 de dezembro.

Desde 1901. Estabelecido em 1901, o Prêmio Nobel tem o objetivo de reconhecer pessoas que tiveram atuações marcantes nas área da física, da química, da medicina, da literatura, da paz -e, desde 1968, também da economia. O prêmio foi estabelecido pelo cientista e inventor sueco Alfred Nobel, criador da dinamite, que morreu em 1895 e uma fundação para administrá-lo.
A premiação consiste de uma medalha, um diploma e um prêmio em dinheiro de 10 milhões de coroas suecas, o equivalente a US$ 1,5 milhão.

Todos os prêmios são concedidos em Estocolmo, capital da Suécia, a não ser o da paz, que é dado em Oslo, capital da Noruega.
Na época em que Nobel era vivo, a Noruega e a Suécia estavam unidas numa monarquia - que durou até 1905, quando a Noruega tornou-se um reino independente. Em seu testamento, Nobel determinou que o prêmio da Paz deveria ser decidido por um comitê norueguês.
Os laureados com o prêmio são escolhidos de uma lista de nomeados, que não é divulgada previamente. Portanto, apesar de haver sempre muitos palpites e "favoritos", é muito difícil saber quem vai vencer.
Muitas vezes, o escolhido passa longe das previsões divulgadas pela imprensa na semana da premiação.
Neste ano, o nome de Ellen Johnson Sirleaf era citado entre os favoritos. E também se falava muito na possibilidade de algum nome ligado à Primavera Árabe ser escolhido. As informações são do G1.

Os corpos gerentes da Liga Africana, congratulam-se com tão elevada distinção a três senhoras que lutam pela paz, democracia e pelos direitos das mulheres de todo o mundo.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

“UMA PÁGINA DA HISTÓRIA DE ANGOLA “


Jaime de Sousa Araújo

Foi nas terras do Cazengo que se forjou a conspiração vergonhosa dos colonos residentes, contra atenta pacífica postura dos naturais de Angola acoimada de “Revolta de Mata Brancos “ .

Estranhamente, de há muito que Portugal sentia a perda das suas colónias africanas, sobretudo no período que antecedeu à independência do Brasil

Os residentes europeus do Kwanza – Norte receavam a afirmação sócio – económica de uma élite de negros e mestiços que reflectiam sobre uma possível auto-determinação do território que desde a expulsão dos Holandeses pelo Almirante Salvador Correia de Sá e Benevides, grande parte dos quadros da Administração Colonial era ocupado por varões brasileiros treinados no negócio de escravos e Importação e Bens procedentes do Brasil.

Desde as últimas décadas do século XIX nos primórdios do século XX várias armadilhas foram urdidas para delimitar a capacidade de intervenção intelectual e económica dos naturais, que souberam sempre defender com brio seus interesses dando resposta adequada aos insolentes que procurassem denegrir a honra dos naturais.

Tanto assim, que no princípio do século XX um grupo de colonos maldosos desferiu ataque aos naturais da terra, através de um “ pasquim periódico de Luanda com título “ “contra grei pela grei “ achando que os nativos não merecem tratamento igual no julgamento das suas faltas ou infracções judiciais. A resposta de uma pléade de intelectuias não se fez tardar em forma de resposta acutilante nos jornais da sua propriedade editados em Luanda.

Em reforço aos insultos editaram um livro sob o título “ Voz de Angola clamando no deserto “ em 1902 com depoimentos e apoio de figuras portuguesas que igualmente responderam a leivosia dos colonos.

Contudo, o diabo tece as maldições armando “ tocaisos “ congeminadas por colonos ávidos de assumirem a posse de bens, imobiliários e terrenos férteis para agricultura.

Assim é que se denuncia a falsa conspiração, quando antes se deram outras revoltas acoimadas de “ mata brancos “, como a do Congo liderada pelo Dom Álvaro Tulante Buta, apoiada por missionários estrangeiros pela ocupação das terras do Congo e pagamento compulsivo “ imposto de cabeça “, dando lugar a deportações em massa em São Tomé e Príncipe, e posteriormente as insurreições em cadeia dos Dembos, Mussende, Ambaca, Amboim – Seles, Libolo, Bailundo e Cunene num período permanente de 20 anos.

Tem convulsões de desapontamentos a repressão colonial permitiu que o Governador Geral Norton de Matos extinguisse por despacho de 1913 Liga Angolana, deportando dentro do país os fundadores:

Manuel Pereira dos Santos Van – Dúnem, José Vieira Dias, António Ferreira de Lacerda e outros.

Acusava então, Norton de Matos as Associações Africanas da época como fulcro das revoltas espalhadas pelo território, permitindo que a sanha revoltosa dos colonos tratasse a Liga por uma “ Associação de Mata Brancos “.

Estávamos no mês de Julho, como agora, quando é forjada a conspiração de colonos do Cazengo contra os naturais da terra servindo de rastilho o intriguismo de joão Baptista de Sá, gerente da Companinha Comercial do Cazengo, por rivalidades comerciais e acusação de ter sido autor de desvio de certa mercadoria dos armazéns do Caminho – de – Ferro no Lucala, segundo o comerciante Manuel Moreira.

As autoridades administrativas trataram de proceder a prisões em massa, envolvendo figuras mais proeminentes da região com destaque para:

      - António Assis Júnior
      - Domingos Van – Dúnem
      - António Joaquim de Miranda, relevante activista da educação dos aborígenes.
      - Paulo Alves da Cunha
      - Fernando Correia Cabral
      - Adriano dos Santos
      - Sérgio José da Silva
      - Manuel Augusto dos Santos
      - Pedro Mendes Duarte
      - Manuel Correia Víctor
      - Filipe de Sá Mello
      - António Faustino
      - José Feliciano Vicente
      - Francisco Jerónimo
      - Francisco Bartolomeu
      - Joaquim Fortuna
      - Félix Adriano
      - Alberto Mateus
      - Francisco Gonçalves
      - Augusto Aleixo da Palma
      - António Luís Da Silva e outros.

As vítimas acima referidas, com destaque para o escritor António Assis Júnior e o chefe da estação do Cazengo, Domingos Van – Dúnem, enclausurados nas masmorras da Fortaleza de São – Miguel de Luanda a partir de Agosto de 1917.

O efeito repressivo das autoridades colónias produziu reacções em cadeia traduzidas pelas revoltas já referidas.

A cabala foi tão bem urdida pelos colonos do Cazengo aliados às autoridades que acabou por envolver o testemunho de vários representantes da terra em recurso interposto por António Assis Júnior nas masmorras da Fortaleza de São Miguel, tendo entre outros prestado declarações figuras respeitadas como:

- O Administrador de circuscrição Antunes Ferreira,
-  O Delegado de Saúde Dr. Augusto de Brito e Nascimento,
José de Sá Vasconcelos Júnior,
- Lucrécio Africano de Carvalho,
-  Carlos Giovetti,
-  Adolfo Correia,
-  Estêvão Fernandes,
-  Casimiro Pereira Bravo,
Alonso de Soto Veiga,
-  Eusébio Rodrigo da Costa
- Adriano dos Santos

De tudo quanto terão a paciência de escutar, assalta–me ao pensamento que as convulsões aqui transmitidas em forma de história tiveram efeitos positivos na tomada de posição dos direitos e liberdades, então restringidos aos naturais da nossa terra.

Contudo, as lições dos nossos antepassados serviram de incentivo à luta de libertação que culminou na independência de que disfrutamos.

Jaime de Sousa Araújo
Liga Africana




































sábado, 1 de outubro de 2011

Dom Damião Franklin, Arcebispo de Luanda é recebido pelo Senhor Presidente da República

O Presidente da República recebeu ontem 30.09.2011 Dom Damião Franklin, Arcebispo de Luanda.
D. Damião Franklin considerou proveitoso o encontro com o Chefe de Estado. “O encontro correu muito bem”, disse o arcebispo de Luanda, indicando que “viemos tratar de assuntos de âmbito bilateral entre a Igreja e o Executivo, em relação a questões, aqui de Luanda, que interessam aos fiéis, que também são cidadãos”. O líder religioso pronunciou-se sobre a situação social na capital angolana, considerando que o quadro actual “pode ser motivo de alerta não só para quem governa, mas também para quem é governado”. Dom Damião Franklin defendeu a necessidade de se “encarar as coisas com realismo, com patriotismo e muito sentido de responsabilidade”. O arcebispo de Luanda considerou “importante sermos os protagonistas da nossa felicidade”, lembrando que “para isso é preciso trabalharmos todos juntos, não só os que governam, mas também os que são governados, pois que a paz social, de que se fala tanto, é um objectivo que deve ser preocupação de todos”.
D. Damião Franklin considerou imperioso que a paz seja preservada, porque “estamos a ver que em pouco tempo Angola avançou muito mais que durante a guerra toda. A guerra gasta financiamentos, gasta as pessoas, traumatiza. Todos nós experimentámos isso em Angola, e é claro que nós não gostaríamos que isso se repetisse”.
A Liga Africana congratula-se com a preocupação da igreja católica na preservação da paz duramente conquistada pelo povo angolano e felicita Sua eminência o arcebispo D. Damião e o Senhor Presidente da República Senhor Engenheiro José Eduardo dos Santos pelo encontro entre ambos.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Ministra da Cultura destaca importância de se respeitar a memória de NETO

JA - 19.09.2011
A ministra da Cultura, Dra. Rosa Cruz e Silva, afirmou ontem, em Mbanza Congo, que os progressos que se alcançam no domínio da economia devem estar associados às grandes questões que sustentam o desenvolvimento cultural.


Rosa Cruz e Silva, que discursava durante o acto central do Dia do Herói Nacional, ontem assinalado, sustentou que essa é uma das formas de respeitar a memória do primeiro Presidente de Angola, enquanto poeta e homem de cultura.

“Na senda do glorioso caminho da reconstrução nacional, torna-se necessário reconstruir a nossa memória histórica e cultural, dignificando-a, para prestigiar o legado dos nossos heróis e as figuras de relevo que tornaram possíveis as nossas conquistas”, defendeu. Falando em representação do Chefe de Estado, salientou que o actual momento revela um crescimento económico e social do país e melhorias significativas nas condições sociais da população. Essa proeza, acrescentou, significa que estão a ser cumpridos os ideais do fundador da nação.


Na sua perspectiva, o país precisa de criar, cada vez mais, espaços de debate sobre a herança cultural e política de Agostinho Neto, revivendo a sua memória e feitos e contribuindo para um conhecimento mais alargado do conjunto da sua imponente obra literária.


A ministra destacou ainda a importância histórica do Reino do Congo. Defendeu que a magnitude do simbolismo da região exige, com urgência, o reconhecimento de todos os angolanos, para a preservação das riquezas históricas inerentes ao seu amplo património cultural. Falando para várias centenas de pessoas presentes no Largo António Agostinho Neto, lembrou que Mbanza Congo, fundada antes mesmo da chegada dos portugueses, se reveste de grande importância, por até ao século XVI ter sido considerada a maior cidade da costa ocidental de África, abarcando o reino, na altura, o actual Congo-Brazzaville, República Democrática do Congo e Gabão.


“Nesse sentido, torna-se urgente preservar as riquezas históricas de Mbanza Congo, no âmbito do projecto ‘Mbanza Congo, cidade a desenterrar para preservá-la’. Não podemos esperar que outras pessoas conservem estes bens”, defendeu, acrescentando que o programa de restauro deve contar com o apoio dos próprios angolanos.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Progresso de Angola destacado por Obama

JA-12 de Setembro de 2011

O Presidente norte-americano, Barack Obama, reconheceu na sexta-feira os progressos registados em Angola, desde que alcançou a paz, e felicitou o Chefe de Estado angolano pela presidência da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).

"Nesta última década, Angola não apenas se recuperou da guerra civil devastadora, como igualmente desenvolveu uma economia que se posiciona de entre as maiores do continente africano", disse o Presidente norte-americano durante uma audiência que concedeu, na Casa Branca, ao embaixador angolano nos Estados Unidos, Alberto do Carmo Bento Ribeiro.
Na cerimónia, que serviu para o novo chefe da missão de Angola em Washington apresentar as suas cartas credenciais, Barack Obama referiu que a indicação do diplomata angolano acontece num momento crucial das relações bilaterais entre os dois Estados.
Uma nota da Embaixada de Angola nos Estados Unidos refere que, durante a cerimónia, o diplomata angolano realçou os dividendos da paz, a consolidação da reconciliação nacional que ocorre no nosso país.
Alberto do Carmo Bento Ribeiro destacou, igualmente, o reforço das instituições democráticas, no sentido de uma melhoria na defesa dos direitos humanos, na redução da pobreza, na boa governação e no combate à corrupção.
O embaixador falou, igualmente, dos progressos alcançados na cooperação bilateral entre os dois países, enfatizando a assinatura do Memorando para o Diálogo de Parceria Estratégica, em 2010, como um testemunho da importância da diplomacia e um instrumento que vem, cada vez mais, reforçar as boas relações já existentes. O diplomata angolano fez a apresentação das suas cartas figuradas, no dia 1 de Setembro de 2011, no Departamento de Estado.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Carnaval do Brasil ao ritmo do semba de Angola


JA - António Bequengue e Adriano de Melo - 8 de Setembro de 2011

Martinho da Vila disse ontem ao Jornal de Angola, que o seu grupo, na próxima edição do Carnaval do Rio de Janeiro, vai desfilar com um enredo sobre Angola, onde vai estar em destaque o casamento entre o semba e samba. O cantor e compositor brasileiro apresentou o projecto à ministra da Cultura, Rosa Cruz e Silva.

 Fotografia: Reuters

 Volta a Luanda no próximo mês a convite da União dos Escritores Angolanos para falar de música, poesia e literatura. Martinho da Vila anunciou que vai convidar alguns artistas e intelectuais angolanos para participarem no desfile da Unidos de Vila Isabel, inclusive o Presidente da República, José Eduardo dos Santos.

Jornal de Angola - Qual foi o motivo da sua viagem a Luanda?

Martinho da Vila - Vim falar com a ministra da Cultura, Rosa da Cruz e Silva, para fazer uma explanação sobre o enredo que a escola de samba Unidos da Vila Isabel vai apresentar no próximo Carnaval, cujo título é "O Canto Livre de Angola". Para que sejamos bem sucedidos, o que será bom para os nossos países, é necessária a participação oficial e particular em termos de patrocínios. Um bom resultado deste projecto é importante para criar mais intercâmbio entre músicos angolanos e brasileiros.

JA - Que informações tem sobre a música angolana?

MV - Tenho muita informação, mas sei pouco sobre o momento actual. Os primeiros músicos angolanos que foram ao Brasil fui eu quem levou. Já trabalhei com extremos como o Bonga e o Dog Murras.

JA – Qual foi o seu percurso artístico?

MV – Actuei pela primeira vez num festival de música da TV Record, em 1967, o mesmo que revelou Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Edu Lobo e muitos outros. Falar da minha trajectória até hoje é impossível em poucas palavras.

JA - Escreve livros e compõe músicas nos mais variados ritmos. De onde vem o gosto pela diversidade?

MV - Gosto da diversidade mas não sei de onde vem o gosto. Acho perfeitamente normal um actor cantar, uma actriz representar, um sambista escrever livros, um erudito fazer música popular, um compositor pop criar uma ópera e todos fazerem outras coisas como pintar, esculpir, produzir, realizar filmes…

JA - Com a introdução de novos ritmos e novas tendências na música mundial, ainda há lugar para o samba de qualidade e de raiz no Brasil?

MV - Sambas de qualidade musical e poética continuam a ser produzidos no Brasil. Chico, João Bosco, Arlindo Cruz, Roque Ferreira, Nelson Rufino, Zeca Pagodinho, Dudu Nobre e alguns outros estão sempre a produzir bons trabalhos. O mais tradicional de todos é o Paulinho da Viola.

JA - O actual processo de produção e gravação influenciaram a sua carreira?

MV - Influenciar creio que não, mas eu sempre usei a tecnologia a meu favor.

JA - Sei que Martinho da Vila é um homem do Carnaval. Como classifica a sua participação nas escolas de samba?

MV - Há compositores de música popular que não são do Carnaval e autores de samba de enredo que não fazem outro tipo de música. Eu sou eclético. Muitos sambas enredos meus foram cantados em desfiles e a minha participação diversificada. Sou presidente de honra da Unidos de Vila Isabel mas, essencialmente, sou membro da Ala de Compositores.

JA - Como foi a sua experiência de actor, no filme "A Magia do Samba"?

MV - Não deixei a música para ser actor. A "Magia do Samba" é um filme inglês onde eu faço uma auto-representação e desenvolvi parte da banda sonora.

JA – Como tem sido a sua carreira fora do Brasil?

MV - Quem quiser viver de música tem de trabalhar com afinco e abraçar o profissionalismo, tanto no Brasil como em Angola. A minha carreira no Brasil e fora é muito activa. Este mês eu actuo em Salvador da Baía e no Rock in Rio. Dia 11 vou a Paris gravar com a cantora Nana Mouskouri. No início de Outubro canto em Portugal e Inglaterra. Há outras propostas internacionais em andamento.

JA - Os novos músicos têm cuidado com a Língua Portuguesa na elaboração das suas canções?

MV - Os compositores devem ter uma preocupação permanente com a Língua Portuguesa e aprimorar as suas letras. Os cantores, além de darem prioridade à poesia, devem procurar temas com riqueza melódica.

JA - As suas músicas ajudaram a mudar as mentalidades no Brasil?

MV - Não devo falar da importância da minha música. É dever dos estudiosos, críticos, pensadores.

JA – A Música Popular Brasileira ainda defende a modernização dentro do tradicionalismo?

MV - Sou visto como representante da Música Popular Brasileira, estivo muito abrangente que persiste e se expande. Procuro manter a essência da tradição, sem arcaísmo, mas evitando o modismo.

JA - Ainda é necessário defender o afro nas músicas, apesar da cada vez crescente globalização?

MV - Alguns dos meus antepassados foram africanos escravizados. Todo o mal tem algo de bom e a escravatura propiciou o sentimento de irmandade entre o povo brasileiro e o angolano. Os brasileiros oriundos de África foram muito importantes na construção do Brasil, influenciaram na cultura e em particular na música. O som afro faz parte da globalização.

JA - Qual é a sua opinião sobre os elos culturais entre os países lusófonos?

MV - A CPLP caminha a passos lentos, mas avança. O que mais pode unir os países lusófonos é a cultura artística e literária.

JA - É fácil viver da música no Brasil?

MV - Não é fácil viver de música em lugar algum, porém é mais viável nos países desenvolvidos, por terem a actividade musical profissionalizada.

Palanca Negra está ameaçada

Jornal de Angola, 06 de Setembro, 2011
Quatro manadas de palancas negras com 50 animais, incluindo alguns machos territoriais, fêmeas reprodutoras, jovens e crias, foram localizadas  na reserva do Luando, província de Malange, durante uma expedição científica, informou ontem, em Luanda, o coordenador do projecto de conservação da espécie, Pedro Vaz.
Apesar dos resultados,  o coordenador do projecto de conservação da Palanca Negra, do Ministério do Ambiente,  lamentou o facto de se confirmar o desaparecimento deste antílope na maior parte da reserva do Luando, em consequência da guerra civil e da caça furtiva.

“A caça furtiva está muito activa através da utilização de armadilhas de laço. Foram encontradas várias palancas fêmeas com ferimentos graves nas patas, por causa dessas armadilhas, e temos fotos de pelo menos duas dessas fêmeas que devem morrer em breve por causa dos ferimentos”, disse Pedro Vaz
Em declarações à Angop, acrescentou que a caça furtiva nos últimos anos tem impedido a sobrevivência das crias e o seu recrutamento para a manada, uma vez que foram detectados pelos especialistas  vários animais velhos e crias deste ano ainda recém-nascidas, mas com muitos poucos animais jovens, entre dois e sete anos.
Durante a segunda fase de captura da palanca negra gigante que decorreu de 27 de Julho a 20 de Agosto deste ano, foram levados para o santuário de Cangandala oito animais, sendo seis fêmeas jovens e dois machos, com oito e dois anos. Estes animais juntaram-se a outros para reprodução de novas manadas no santuário do Parque Nacional de Cangandala, província de Malange. Segundo o mesmo responsável,  Ministério do Ambiente e parceiros têm  nos seus registos um total de 19 animais, dos quais cinco machos e 14 fêmeas, todos já no santuário criado no parque de Cangandala.
Mesmo assim, Pedro Vaz disse ser ainda preocupante a situação actual da palanca negra gigante,  sendo mesmo um dos mamíferos mais ameaçados de extinção do mundo. “Se não agirmos com firmeza e imediatamente, corremos o risco de ver a palanca desaparecer nos próximos anos”, alertou Pedro Vaz. O número total de palancas sobreviventes é de menos de 100 animais, confirmadas apenas 50 no Luando e 20 em Cangandala. A caça furtiva é a principal ameaça, estando ainda descontrolada na reserva do Luando.
Pedro Vaz firmou que o combate à caça furtiva na zona da palanca tem de ser uma prioridade nacional, abrangente, e não apenas circunscrito aos órgãos tradicionais da tutela, como seja o Ministério do Ambiente, e seus parceiros, nomeadamente, a Universidade Católica e a Fundação Quissama. Disse ainda que a protecção da palanca negra nas duas reservas passa pela acção de agentes de fiscalização no terreno e reforço das campanhas de sensibilização no seio das comunidades, sobretudo aquelas que vivem próximo das suas reservas.
Pedro Vaz sublinhou que neste momento existem apenas alguns pastores, agentes não oficiais, com pouca formação, para proteger as reservas. Sublinhou o empenho das Forças Armadas Angolanas e da Força Aérea que trabalharam satisfatoriamente durante a segunda fase de captura do antílope.

Comboio da Canhoca ( 2004 ) 87 min | 35 mm/cor Realização: Orlando Fortunato SINOPSE OFICIAL: Angola, Malange, 1957. Consequência de uma ...