Discurso do Presidente da Liga Africana - Tomada de Posse - Novos Corpos Sociais
Intervenção do Presidente da Direcção da Liga Africana por ocasião do empossamento seu e dos Órgãos Sociais para o triénio 2015-2017
Tomada de posse dos Novos Corpos Directivos da Liga Africana |
Saudações aos presentes:
Não se pretendeu, intencionalmente, conferir solenidade ao presente momento à altura da tradição da Liga Africana, em virtude da concomitante ocorrência de acontecimentos inesperados e conjunturais na sociedade, mas com reflexos muito condicionantes na disponibilidade de alguns colegas em participarem neste acto e na hospitalidade e beleza que os experientes responsáveis da Liga Africana sabem agraciar aos seus convidados no quadro das suas actividades.
Inesperado foi o passamento para o mundo metafísico de um respeitado cidadão e membro da família Vieira Lopes, a qual tem igualmente laços de parentesco com as famílias Jardim e Araújo, das quais provêm alguns membros dos órgãos sociais que são empossados neste singelo acto; conjunturais são os temores inerentes ao desfavorável momento económico nacional, oportunamente bem caracterizado e bem explicado a nação por Sua Excelência o Chefe do Estado e do Executivo do nosso país, Eng. José Eduardo dos Santos e no contexto institucional, o desconforto da Liga Africana de (ainda) não poder dispor de espaço suficiente para o seu funcionamento, numa infraestrutura que a abriga por obséquio e edificada pela sua precursora.
Cumpre-nos manifestar, em nome de todos sócios da Liga, a nossa comunhão de sentimentos de pesar às famílias Vieira Lopes e Jardim, por aquela ocorrência inesperada e infausta; as questões conjunturais nacionais e institucionais só podem impelir a cada um de nós a trabalhar e a dialogarmos ainda mais e melhor, no sentido de as dissiparmos a breve trecho.
Apesar dos constrangimentos acima citados, não nos podemos isentar da obrigação de, de forma sumária, fazer verter algumas despretensiosas, e pela natureza caloira nossa nesta actividade, tão desajeitadas como sinceras reflexões:
Excelências,
A Liga Africana sente-se sucessora da Liga Nacional Africana não apenas em virtude de muitos dos seus prestigiados e prestigiantes fundadores terem sido membros, na difícil e conturbada época colonial, desta sua antecessora; a relação de ascendência e descendência entre as duas instituições, resulta do facto da Liga Africana incorporar “ in toto” no espírito dos seus sócios e na letra dos seus estatutos, os valores de solidariedade social, difusão de virtudes culturais, disseminação do conhecimento, valorização integral da cidadania, promoção da paz e observância de paradigmas de moralidade, que já eram apanágio, formulado com o extremo cuidado que o contexto colonial exigia, dos Fundadores em 1912 da Liga Angolana e em 1930 da Liga Nacional Africana.
A interacção inteligente com as autoridades coloniais dos dirigentes daquelas duas organizações antecessoras da actual Liga Africana não impediu, antes pelo contrário promoveu, que neste edifício fosse progressivamente amadurecido o sentimento, segundo o qual, Angola tinha que libertar-se do colonialismo. Muitas das graúdas figuras conhecidas do nacionalismo angolano foram membros e em alguns casos lídimos dirigentes das nossas antecessoras;
Ao ter sido alcandorado pelos sócios da Liga Africana para este posto de Presidente da Direcção da Liga Africana, apenas posso compreende-lo no contexto de infinita bondade dos meus compatriotas, porquanto nenhum dos meus humildérrimos atributos e conhecidas fragilidades, podem assemelhar-se às inemuláveis qualidades de graúdas figuras desta urbe e ex-presidentes da Liga, como foram os casos de António Assis Júnior (1930-1933), Francisco Alves Fernandes (1933-1936), Manuel Pereira do Nascimento(1936), João Cândido Furtado D´Antas (1937), Cónego Manuel Joaquim Mendes das Neves (1941-46) e outros antes da Independência bem como de João Baptista de Castro Vieira Lopes e finalmente António de Oliveira Madaleno, que por graça tanto sua como Providencial, permitiu que sejamos seu substituto.
Um sentimento não desvanece apenas com construções jurídicas, quando a legalidade parece estar dissociada da legitimidade, do bom senso e da sequência natural das coisas e dos processos.
Cumprido o aspecto da agenda consistente na libertação Nacional do fardo do colonialismo, pelo qual muitos dos Pais fundadores desta Liga consagraram a sua actividade onírica, racional, física, criadora e de génio organizador, a obra do desenvolvimento humano, uma expressão de admissão relativamente recente na reflexão multidimensional da realidade das sociedades, não está e nem pode estar, pela sua natureza longitudinal na vida das nações, definitivamente acabada.
A Liga Africana inspira-se nas aspirações nobres dos país fundadores das suas antecessoras e os seus membros disponibilizam-se em trazer para este espaço de comunhão cívica de ideias e realizações, as reflexões, esforços e acções que identificam como sendo partilháveis com os consócios ou valorizantes para outros membros na sociedade, e.g. na assistência social em benefício dos que não tiveram a ventura de serem preparados suficientemente para a competitividade crescente, que se assiste na nossa sociedade; contribuir na difusão da instrução e da preparação profissional das gerações que dela mais dependem para a afirmação da sua cidadania em particular e do país no geral; apresentar-se igualmente contributiva na rede de instituições participantes no esforço nacional de disponibilizar o conhecimento, sem o qual há praticamente exclusão da cidadania nacional e mundial das pessoas, etc.
Por outro lado, a Liga Africana herdou igualmente a tradição das suas antecessoras em estar próxima das nossas diásporas, estando bem documentada, por exemplo, na correspondência de Higino Aires Machado, membro da Direcção da Liga Nacional Africana na segunda metade dos anos 40 do século passado, enviada ao então estudante de medicina em Lisboa e Coimbra e posteriormente, de saudosa memória primeiro Presidente do nosso país, Dr. António Agostinho Neto, na qual este era convidado a dirigir a filial da Liga em Lisboa.
Hoje a Liga Africana é um regular e respeitado participante das actividades da rede de organizações cívicas da CPLP e dos PALOP, pelo que no contacto não apenas com as diásporas mas também com representantes de outros povos, por enquanto lusófonos, se materializa igualmente a amizade e solidariedade com outros povos do mundo.
A Liga Africana pretende, no mandato trienal que hoje inicia, constituir-se exclusivamente no âmbito do preceituado no artigo 48º da Constituição da República de Angola (Liberdade de Associações) e da Lei nº 14/91 de 11 de Maio (Lei das associações), em refúgio dos seus sócios para a troca de ideias que incentivem as virtudes promotoras da paz, da justiça, da moralidade e do bem comum bem como disponibilizar-se de forma cada vez mais relevante, em parceiro dos poderes públicos instituídos, na assistência aos mais necessitados e valorização do património material e imaterial das populações.
É óbvio que as pessoas não tratam nos clubes desportivos a que porventura pertençam de assuntos relacionados com a sua religiosidade; igualmente não levam aos templos religiosos das suas opções confessionais questões fracturantes das suas simpatias desportivas na relação com outros fiéis, ou o mesmo se diria, “mutatis mutandis” das regras de convivência em outros espaços sociais não selectivos.
Na Liga Africana realizaremos sem esmorecer e enquanto os nossos corações continuarem a latir um exercício de persuasão, encorajando acções e reflexões, enquadradas nos marcos do que todos em comum aspiramos como filhos do mesmo país.
Embora possa parecer redundante mas não é extemporâneo reiterar que o ordenamento jurídico do nosso país, que preside à constituição e funcionamento das associações, não autoriza muito menos incentiva, que elas se metamorfoseiem em associações para fins lucrativos; ao não sê-lo e também nunca o foi, a Liga não pode ser, por maioria de razão, a fonte principal supridora de proventos eventualmente desmerecidos aos seus sócios. A estrita aplicação do princípio da rigorosa gestão dos parcos recursos patrimoniais e financeiros disponíveis em conciliação com a pauta de actividades efectivas a levar a cabo, deve definir com lisura os termos do mérito e demérito no acesso àqueles.
Igualmente, a Liga deve contribuir para uma crescente qualificação dos seus servidores e na medida do possível atrair para os seus órgãos de apoio cidadãos com experiência empírica e conhecimentos científico-técnicos elevados, susceptíveis de tornar a Liga mais relevante para a sociedade angolana.
Recuperar e exaltar, ainda que com algum sentimento nostálgico, a profícua actividade cultural e nacionalista de nobres cidadãos ou grupos destes, no contexto da resistência generalizada ao colonialismo, é um imperativo de justiça para com aqueles e de educação das gerações actuais.
Estas reflexões, Excelências e estimados colegas e amigos, são os ideais que vão traduzir-se em planos, projectos, programas de actividades e acções da Liga Africana, esperando que continue a ser-nos concedida por todas pessoas de bem, suficiente apoio moral e material, à medida das possibilidades de cada sócio, cidadão ou instituição, para melhor homenagearmos os visionários e distintos fundadores e dirigentes que nos legaram este importantíssimo instrumento de intervenção e valorização social dos angolanos: A LIGA AFRICANA.
Muito obrigado pela vossa atenção.
Luanda, 7 de Fevereiro de 2015
Carlos Mariano Manuel
Presidente da Liga Africana
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